originally published in the ItaúCultural Virtual Magazine...

Barbie ganha novos significados
Fabia Fuzeti

Como classificar trabalhos que usam bonecas Barbie deformadas, mutiladas, simulando relações sexuais etc.? Objetos do cotidiano apropriados por artistas emergentes? Crítica visual da cultura de massa por pessoas que, elas mesmas, pouco mais experimentaram além dessa mesma cultura? Simples vontade de chocar? Essas são as questões que rondaram a exposição de Barbies "exóticas", que aconteceu no dia 21 do mês passado na casa noturna "A Lôca", em São Paulo, um dos redutos da população underground da cidade.

Enquanto a boneca Barbie completa 40 anos de vida e a Mattel, empresa que a fabrica, organiza festas nas principais cidades do mundo para comemorar a data, algumas pessoas destroem a imagem da beleza perfeita das bonecas e as transformam em objetos degenerados e repulsivos.
Artistas alternativos e colecionadores-subversores de Barbies com um senso estético não-convencional, vêm questionando o conceito de arte e do belo. Nas suas mãos, as bonecas transformam-se em criaturas mutiladas, crucificadas, mitificadas, sadomasoquistas e homossexuais.

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Tudo com a intenção de chocar. Alisson Gothz, 27, publicitário e ator, foi impulsionado pela repulsa das pessoas. De tanto ser encarado e xingado nas ruas devido ao seu visual exótico, resolveu fazer tudo o que provocasse aversão às pessoas. Ele diz que suas bonecas são puro lixo escatológico. Alisson foi o responsável pela organização de uma exposição de bonecas transformadas no clube "A Lôca", em São Paulo, neste mês de fevereiro. Não só Barbies participaram da exposição. Todo tipo de boneco é manipulado, até aqueles vendidos em feiras a R$ 1,99. O pacote... Esses são mais usados para cirurgias plásticas, implantes de membros extras, próteses e deformações em geral.
Dani Moreira, 19, estudante, está organizando uma página na internet, Inocentes Assassinas, para expor as criações de outros colecionadores brasileiros. Ainda está iniciando, mas espera que ela se transforme numa vitrine para o cenário nacional. Ela transforma as bonecas por diversão e porque adora a reação das pessoas. "Deixar avozinhas chocadas é uma das coisas mais divertidas da face da Terra e, por incrível que pareça, as crianças acham um barato". Ela acredita que um psicólogo diria que eles tiveram algum problema durante a infância, e estão tentando se livrar dele destruindo os ícones infantis. "Acho que é difícil para as pessoas aceitarem a transformação de uma boneca num ser degenerado".
Na Internet é possível encontrar vários sites que vendem desde bonecas strippers, vampiras, até bebês Nosferatu. A maioria delas são feitas em porcelana e pintadas à mão.
Mas nem todo mundo quer chocar. A artista plástica mineira Adriana B., mais conhecida como Necrobarbie, incorporou as bonecas aos seus trabalhos em 94, quando pintava uma série de prostitutas e não ficou contente com o resultado das tintas. Passou a utilizar Barbies inteiras coladas às suas telas.
Assim começou a reunir as coisas que mais lhe interessavam: pornografia, filmes de horror, barbies e arte. Durante algum tempo, influenciada por uma arte regionalista, agregou aos seus trabalhos símbolos católicos como crucifixos e oratórios, até que se deu conta que essa parafernália religiosa não fazia parte do seu cotidiano e, por isso não fazia sentido subvertê-la.
Para ela, os símbolos religiosos não passam de clichês estéticos, que fazem sucesso devido à identificação imediata com o espectador, o que não acontece com as Barbies que, por serem ícones mais recentes, só são coerentes aos olhos de sua geração e de gerações posteriores. Sem falar que se confunde arte com artesanato. A apropriação de objetos/signos populares é reduzida e tem um valor artístico e comercial muito pequeno. "Geralmente uma pintura ou escultura costumam ter mais valor que uma idéia expressa por objetos cotidianos ou desses objetos dentro de uma montagem. E Barbies sexualizadas e mutiladas não são exatamente o que a maioria das pessoas gostaria de ter penduradas sobre os seus sofás. Portanto, com um desempenho comercial nulo, é um pouco difícil encontrar pessoas interessadas em expor os meus trabalhos". Adriana também já fez dois filmes de animação com as bonecas. O primeiro, com duração de um minuto, mostrava Barbie devorada por insetos gigantes. O segundo, Spice Girl, é sexo explícito com necrofilia e necrofagia.
A exposição no clube "A Lôca" foi uma das poucas oportunidades para essas pessoas mostrarem seus trabalhos e deve se repetir em abril, dessa vez mais sofisticada e completa.

fotos: Sandra Camanho

Links para Barbies detonadas:
http://members.tripod.com/dark_dolls
(página de Dani Moreira)
http://www.gothic.net/~theda/dolls.htm
,
www.barbie.com

www.realdoll.com
http://www.gothic.net/~theda/dolls.htm
http://members.aol.com/angelspoon/ghoul.html
http://www.eisa.net.au/~lady/
http://www.racydoll.com/